Alan Ball
(1957)
Criador e roteirista da maior obra-prima já produzida pela humanidade em todos os tempos: Six Feet Under, a grandiosa, épica e infinita série de TV feita entre 2001 e 2005. O gênio absoluto e monumental que, em 05 maravilhosas temporadas, conseguiu discutir sobre todos os fenômenos inerentes à maior das oposições: a vida e a morte. É a representação mais visceral, agressiva, realista e profunda sobre a condição humana jamais feita; a observação da existência e do universo a partir da angústia, da tristeza, do sofrimento e da felicidade; a redução do homem lógico, surreal, imaginário e latente ao charco físico e imperfeito da realidade.
Passarei anos e anos tentando absorver todos os significados complexos e encantadores do programa, analisarei minuciosamente todos os episódios, personagens e diálogos, mas creio, com sinceridade, que o verdadeiro e completo significado de Six Feet Under apenas aparecerá em alguns milênios, talvez. Ou jamais.
Sou, no entanto, eternamente grato a Alan Ball por ter criado a minha maior exultação, a minha maior reflexão, o meu maior espelho.
William Faulkner
(1897 - 1962)
O maior escritor de todos os tempos. Americano, desgarrado, sulista e degenerado. Embriagado, confuso, genial e extremamente elegante, sobretudo nas fotografias de Bresson. E muito baixo, atarracado, sempre mexendo os pulsos, com o olhar entristecido e amargurado, o olhar aprendido na infância, no Mississippi, onde a tragédia e o desespero sempre foram protagonistas históricos.
E ele transformou este imenso e apaixonante Sul dos Estados Unidos num testemunho eterno sobre a psicologia da loucura, da normalidade, da religião, da intolerância e da amargura, e conseguiu ser mais realista, incisivo e complexo do que todos os outros mestres da literatura. Levou o fluxo de consciência ao nível da psicologia, e criou um trabalho atormentado, quase profano, que fala como nenhum outro sobre a maior conquista da representação humana: a visão da tristeza geral e variável.
Não se enganem: ela está em todos nós.
Damon Albarn
(1968)
Líder do Blur, criador do Gorillaz, entusiasta dos músicos africanos e ícone central do The Good, The Bad & The Queen, que talvez nomeie este blog. Personagem da geração estupenda de músicos ingleses hoje chegados aos 40 anos, ele provavelmente seja, entre todos, o meu favorito.
Também o mais relevante desta geração, um Midas competente e genial que tranforma todos os projetos nos quais se envolve em grandes feitos artísticos. Variou entre o Rock britânico, os ritmos orientais, as experiências com o eletrônico e o monumental álbum sobre Londres, a Londres em chamas, a Londres feliz, contente e esnobe. Que, todos os dias, não se esquece de jogar suas lembranças contra a minha janela saudosista.
Hoje, ninguém tem tanto talento musical. Ou tanta inspiração criativa. Ou tanto estilo, simplesmente.
E Damon Albarn ainda foi protagonista do momento mais feliz da minha vida. Obrigado.
Zinedine Zidane
David Gilmour
John Ford
(1894 - 1973)
O melhor, o mais importante e mais clássico diretor da história do cinema. Conseguiu transformar As Vinhas da Ira numa referência visual, algo praticamente impossível. Adaptou a obra caótica de Steinbeck e a aprimorou, tornou-a mais profunda, solene e musical, emprestando a fotografia à miséria e ao sofrimento, e sem os apelos de Sebastião Salgado e demais virtuosos da pobreza; mas com estirpe, postura, respeito e realismo.
Foi o grande gênio do faroeste, falou sobre o jornalismo como poucos fizeram, denunciou a podridão do próprio gênero e, incansável, não parou de rodar obras-primas até muito velho. Um bastardo.
E, como se não fosse suficiente, ajudou a criar a linguagem narrativa que todos os cineastas e roteiristas hoje utilizam. Um diretor que fez o cinema como entretenimento e, ainda, objeto de contemplação. O meu favorito; azar dos outros.
Zinedine Zidane
(1972)
O melhor jogador de futebol que, felizmente, tive a alegria de ver desfilando (e não apenas jogando) pelos gramados do mundo. Um gênio, e sinceramente não tenho como defini-lo de outro modo menos enfático ou mais conservador. E ainda o mais elegante, completo e talentoso. O que conseguia simplificar todos os movimentos, e todos os chutes, passes, lançamentos e domínios, como se o esporte fosse uma atividade quase entediante e ultrapassada.
Mas era tão simplório e contido ao jogar, tão instantâneo e claro... Por que apenas ele conseguia fazer tanto a partir de tão pouco? E por que todos os outros pareciam acompanhá-lo muito distantes, atordoados, como se ele fizesse algo absolutamente mágico e momentâneo, completamente invisível ao resto do mundo? E sem apelos estilísticos ou desnecessários, sem os exageros triviais dos colegas de profissão.
Tudo tão perfeito, impecável, incorrigível. Eu ficaria envergonhado em repreendê-lo por qualquer coisa, em qualquer situação. E expulsaria o Materazzi naquela trágica partida.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1e0Ur72ebJ0emoEF2jkg76hlNZcWiX9Iz5y6vpMce1mc-NSKbnh9kre_My9FGlH_QoFGZjzloIwWuQiDUrFqPhoTpT5xRYsprCze6CZeoZBJwvx_mgmVOHUiPzmpf6SycYAouI-Hefno/s320/gilmour.jpg)
(1946)
Andar de bicicleta durante o inverno respeitoso de fevereiro, naqueles 15 ou 20 minutos que separavam a simpática casa na Simone Weil do Boulevard cujo nome agora não me aparece na cabeça. E sempre com a mesma velocidade, observando o gelo escorregadio derivado da neve que derretia com o aquecimento das primeiras horas da manhã, mas sem muita preocupação com o conteúdo das aulas.
Cheio de casacos, e com apenas uma luva nas mãos, já que a outra havia se perdido, com a touca pelo avesso cobrindo o cabelo e os fones nos ouvidos. Uma sinfonia única e duradoura que se prolongava pelo caminho, fazendo seus intervalos conforme as ruas mudavam de nome e o caminho mudava.
No começo, quando ainda seguia as indicações formais do Google Maps, restrito a Time, Hey You e Comfortably Numb. Depois, com a cidade já encaixada nas lacunas da minha memória, no ápice, imerso em One of These Days e Shine on You Crazy Diamond.
E, acreditem, poucas vezes na vida fui tão feliz.
Edward Hopper
(1882 - 1967)
Mas, afinal, estamos todos loucos ou apenas solitários?
Frances Conroy
(1953)
Pouco importa se todos os humanos racionais e conscientes não hesitem em colocar a Meryl Streep como a maior atriz da história do cinema. Eles estão todos certíssimos, cobertos de razão. Não existe ninguém, de fato, próximo à supracitada. E nunca existirá, creio.
Mas existe Frances Conroy e a sua impecável, pungente, monumental e histérica atuação como a matriarca Fisher em Six Feet Under. A melhor atuação feminina entre todas as peças teatrais já executadas, entre todos os filmes já rodados, entre todos os minúsculos cenáculos escolares apresentados nas festas de encerramento do semestre.
Apaixonante, profunda, realista e envidraçada; e todos os adjetivos pertinentes e impertinentes que consigam moldar a falha observação aqui apresentada sobre a performance desta atriz. Atuação superior inclusive ao nosso velho convívio diário, ao viver natural, espontâneo, como se ela antevisse o casual e procurasse superá-lo. Como se Ruth Fisher não fosse a pintura ou o retrato de um texto, de um personagem, mas a manifestação humana, ou mesmo perfeita, da existência na sua mais instintiva essência como matéria viva e reagente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário